Na batalha de Okinawa, em 1945, uma das mais sangrentas da história, o socorrista Desmond Doss demonstrou que na mais terrível barbárie é possível ter gestos de humanidade. A carnificina foi tão devastadora no Japão que os combatentes tropeçavam em pedaços de corpos destroçados. Morreram cerca de 250 mil soldados e civis.
O guerreiro sem armas dos EUA utilizou apenas a destreza do seu corpo para socorrer os feridos, inclusive japoneses, acreditando que cada vida vale a pena. Sua biografia foi narrada no livro “O soldado desarmado” e imortalizada no filme “Até o último homem”, de Mel Gibson.
Estamos em plena batalha contra um vírus terrível. Nós, brasileiros, desenvolvemos uma sórdida capacidade de normalizar nossos horrores. A perda do outro logo se transforma em um dado estatístico. Faltam poucos dias para ultrapassamos a barreira dos 100 mil óbitos. Porém, a morte alheia já não causa espanto e a pátria mãe gentil não fará nenhum luto.
O mais revoltante é que nem mesmo a pandemia foi capaz de amainar a mesquinhez de alguns patrões da área da saúde. Tampouco, entrou em quarentena a obsessiva perseguição contra os servidores públicos. A testagem, que deveria ser uma rotina nas unidades de atendimento, muitas vezes só acontece depois de denúncia ou por ordem judicial.
Os equipamentos de proteção são escassos e é comum os profissionais da saúde adquiri-los com recursos próprios. Dificulta-se a liberação remunerada do grupo de risco e até mesmo dos que apresentam sintomas gripais. Quando contaminados são tratados com indiferença e invisibilizados, alguns gestores sequer admitem que se trata de acidente de trabalho.
Casos de constrangimento e assédio moral, resultados de práticas de gestão autoritária, se avolumam nos hospitais. Cresce o adoecimento psicossocial, decorrente de ambientes de trabalho traumatizados e estressantes.
No final da 2ª Guerra Mundial, Desmond Doss recebeu a Medalha de Honra, a mais alta condecoração dos EUA. Os profissionais da saúde dispensam honrarias. Querem apenas que seus direitos sejam reconhecidos e dignidade. Quem salva vidas não pode morrer.
Silvana Piroli é professora, presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindserv) e secretária de Movimentos Sociais da CUT-RS
Artigo publicado no jornal Pineiro, de Caxias do Sul.
Fonte: CUT-RS
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