24 novembro, terça-feira, 2020 às 4:29 pm
ComentáriosBdF - O brutal assassinato de João Alberto Silveira Freitas, o Beto, por um segurança e um policial militar temporário no Carrefour do bairro Passo D’Areia, na véspera do Dia da Consciência Negra (19), levou cerca de mil manifestantes às ruas na tarde desta segunda-feira (23), em Porto Alegre.
O segundo protesto cobrando justiça por João Alberto e um basta ao racismo que mata diariamente no país ocorreu em frente a uma unidade do supermercado no bairro Partenon, na zona leste da capital gaúcha.
Assim como no grande ato realizado na sexta-feira (20), novamente com cartazes e cantos contra o genocídio do povo negro no Brasil, os manifestantes traziam mensagens como: “o Carrefour é assassino”, “eu também vou perguntar: quantos mais têm que morrer para essa guerra acabar”, “Nego Beto, quero justiça, quero o fim da polícia assassina”, “racistas, fascistas, não passarão” e “queremos respirar”.
Manifestantes caminharam pela Avenida Bento Gonçalves / Ezequiela Scapini
A manifestação pacífica iniciou na rua ao lado do Carrefour, que estava fechado desde às 16h, de acordo com a empresa. O Batalhão de Choque da Brigada Militar acompanhou o protesto desde o início. Por volta das 19h, o ato ocupou a Avenida Bento Gonçalves e saiu em caminhada.
O final do protesto foi marcado por tensão seguida de repressão da Brigada Militar com bombas de efeito moral e tiros de bala de borracha. Um grupo de manifestantes ateou fogo em galhos no meio da avenida. Também foram arremessados fogos de artifício em direção à polícia. Após cerca de 20 minutos, o conflito foi dispersado.
Há o relato de um casal que não participava do protesto e foi ferido pela polícia no final da manifestação. Em seu Facebook, o jornalista Alass Derivas conta que Jean da Rosa Zeferino caminhava na Avenida Bento Gonçalves com sua namorada quando foi ferido por um policial e atropelado pelo cavalo do agente de segurança. Ele foi levado ao Hospital Cristo Redentor com uma lesão na nuca.
Jean se manifestou na mesma publicação: “Eu estava abraçado na minha namorada e a cavalaria estava escoltando umas 10 pessoas, como eu não tinha nada a ver com a situação, o brigadiano queria me obrigar a andar junto com essas 10 pessoas, foi quando eu levantei às mãos para dar passagem e disse ‘eu não sou manifestante, não tenho nada a ver com isso’ e nisso ele já me agrediu nas costas e abracei minha namorada, pois ele nos atropelou com o cavalo e em seguida ele me agrediu com outra espadada na nuca e eu fiquei muito tonto na hora, andei uns 3 metros e ele veio pra cima de mim, já tava meio sem consciência e quando ele foi me agredir de novo eu caí e foi quando ele recuou e até deixaram de escoltar os 10 mais ou menos manifestantes”.
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Investigação
Homem negro, Beto foi espancado pelos dois seguranças brancos e estava imobilizado no momento em que um deles permaneceu com a perna em suas costas por quatro minutos. Análises iniciais da perícia apontam asfixia como a causa mais provável para a morte. A Polícia Civil está ouvindo funcionários e testemunhas e busca evidências para confirmar se o espancamento seguido de morte se enquadra no crime de racismo.
No inquérito, sete pessoas são investigadas. Além do vigilante Magno Braz Borges e do brigadiano temporário Giovane Gaspar da Silva, presos em flagrante por homicídio triplamente qualificado na sexta-feira, está sendo apurado se os demais investigados cometeram crime de omissão de socorro. Os nomes não foram divulgados pela polícia.
Conforme a delegada do caso, Roberta Bertoldo, após os primeiros depoimentos, já se verificam contradições nos depoimentos, como o caso do brigadiano, que inicialmente foi identificado como cliente do estabelecimento e depois confirmado como contratado. Além disso, imagens das câmeras de segurança não mostram uma agressão que Beto teria cometido contra uma funcionária.
Segundo a delegada, a polícia busca saber se houve desentendimentos previamente ao assassinato entre Beto e funcionários do Carrefour. Foram solicitadas todas as imagens das câmeras de segurança e os investigadores também analisam vídeos feitos por testemunhas.
Mercado reabriu
A segunda-feira também foi marcada pela reabertura do Carrefour onde ocorreu o assassinato, após permanecer três dias fechado. Durante o dia, equipes de manutenção realizaram reparos na entrada do prédio, por conta dos protestos de sexta-feira. As pichações que pediam justiça por Beto foram apagadas e o memorial colocado junto à grade do mercado, com flores e mensagens, foi retirado.
Protestos em todo o Brasil
O soldador João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, pai de quatro filhos, foi sepultado neste sábado (21) no cemitério São João, distante apenas 1,7 km do local onde foi esmurrado até a morte. “Beto”, seu apelido, teve o caixão coberto pela bandeira azul e branca do Esporte Clube São José, clube do qual era torcedor apaixonado. O sepultamento aconteceu entre orações, palmas, pedidos de justiça e gritos de indignação pelo assassinato de mais um homem negro.
Sua morte iniciou um levante contra o racismo no Brasil, com protestos realizados junto a unidades do Carrefour em dezenas de cidades, de norte e sul do país. Diversas entidades têm se manifestado em repúdio ao ocorrido e cobram por medidas de punição e medidas concretas para barrar as cotidianas cenas de violência contra o povo negro.
Na manhã desta segunda-feira (23), diversos partidos e ativistas que compõem a Frente de Combate ao Racismo realizaram um Abraço Negro na Prefeitura de Porto Alegre, em memória de João Alberto e para exigir uma prefeitura antirracista.
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Comitê em Defesa da Democracia cobra investigação pelo assassinato de João Alberto
Confira mais fotos do protesto desta segunda:
Protesto em frente ao Carrefour em Porto Alegre / Ezequiela Scapini
Protesto em frente ao Carrefour em Porto Alegre / Ezequiela Scapini
Protesto em frente ao Carrefour em Porto Alegre / Ezequiela Scapini
Protesto em frente ao Carrefour em Porto Alegre / Ezequiela Scapini
Protesto em frente ao Carrefour em Porto Alegre / Ezequiela Scapini
Fonte: Brasil de Fato RS
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