6 dezembro, sexta-feira, 2019 às 5:28 pm
ComentáriosCP – Todo dia, quando o sol se põe, eu penso nos professores que trabalham nas escolas estaduais do Rio Grande do Sul e sinto meu coração disparar. Eu penso nessas mulheres e homens que ganham pouco, trabalham muito, enfrentam dificuldades enormes e são chamados por levianos e insensatos de privilegiados.
Penso no massacre que o pacote de reformas do governo pretende consumar e me sinto devastado pela impotência. Que posso fazer? Penso nesses funcionários públicos recebendo salários atrasados há 50 meses, esses aposentados que contam os dias, as horas, os pilas e escondem o rosto para não chorar.
Todo dia, quando o sol de põe, como no poema de Kerouac, eu penso em nossa gente e me digo na solidão da janela para a avenida engarrafada: nada mais legítimo do que esta greve do magistério. Fiz o dever de casa, li as propostas do governo, estudei as críticas feitas a elas, ouvi deputados, concluí que as perdas para os professores ao longo da carreira são acachapantes. Ao final, um professor ganhará R$ 3.800,00. É muito pouco para quem tem a mais nobre missão. Mais triste ainda é ver o projeto ser apresentado como um ganho para o magistério.
Eu penso nos pais e alunos que, neste mês de dezembro, sonham com a conclusão do ano escolar e com as férias e me pego balbuciando: compreendam. Eu mesmo não compreendo, porém, uma coisa: por que o governo não vem para o debate público com os professores? Por que não manda seus secretários exporem-se ao contraditório enfrentando, por exemplo, o Cpers?
Todo dia, quando o sol se põe, eu me vejo repetindo: é muito fácil fazer planilhas e adotar estratégias que evitam o debate preferindo as articulações de bastidores e as manobras parlamentares. Não direi que é covardia por não me permitir uma palavra grosseira em relação ao governo de um jovem elegante como Eduardo Leite. Direi que é uma escolha errada, triste, injusta e inepta. Se debatesse, talvez o próprio governo pudesse compreender o tamanho do estrago que fará.
O Natal aproxima-se, eu penso, quando o sol se põe, na insegurança de todos esses mestres que perderão parte do pouco que ganham. Triênios e quinquênios não são privilégios, mas formas encontradas para melhorar ao longo do tempo remunerações insuficientes.
Enquanto magistrados, procuradores, funcionários da Fazenda e outros nababos ganharem muito por não serem tantos quanto os professores e os policiais, eu direi ao crepúsculo: sociedade injusta, incompetente, incapaz de encontrar soluções inteligentes para os seus problemas, refém de empresas poderosas que não querem pagar seus impostos e vivem de incentivos imorais amealhados sob chantagem.
Todo dia quando o sol se põe eu penso na tal lei Kandir, aquela que tendo prometido ressarcimento às unidades federativas nunca o fez plenamente. A União beneficia-se com as exportações. Os Estados, que ficam sem o ICMS, ganham o quê?
A noite cai enquanto eu me digo sem medo da grandiloquência típica da solidão: retire o projeto, governador, dê paz aos professores neste final de ano, receba os seus representantes, envie seus secretários para debates, promova a discussão, construa uma reforma que possa ser aceita por todos.
Juremir Machado da Silva é jornalista, escritor, professor da PUCRS, colunista do Correio do Povo e apresentador do programa Esfera Pública da Rádio Guaíba
Fonte: Correio do Povo
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